
A gestão eficiente dos recursos hídricos no Brasil representa um dos maiores desafios ambientais e socioeconômicos da atualidade. Em um cenário marcado por crescentes conflitos pelo uso da água, degradação ambiental e ausência de dados integrados para tomada de decisões, torna-se fundamental o desenvolvimento de soluções inovadoras que conectem a expertise técnica às demandas práticas do setor.
A brasiliense Isadora Cristina Carvalho Bittencourt e a sergipana de Itabaiana, Dayanara Mendonça Santos, se conheceram durante a graduação em Agroecologia. Seguindo caminhos diferentes depois da graduação, Dayanara continuou seus estudos em Engenharia Agronômica, mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe e pós-graduação em Tecnologias de Baixa Emissão de Carbono, pela Univasf, enquanto Isadora, ingressou na área de tecnologia, sistemas para internet na PUC de Minas e hoje cursa engenharia de software na UniCesumar. A Startup Siga, equipe vencedora do Hachaton, que ocorreu na maratona tecnológica AgroHack Ideias 2025, nasce da convergência entre experiência acadêmica e visão empreendedora, resultado da parceria entre profissionais com formações complementares em Agronomia, Meio Ambiente e Engenharia de Software. A proposta, consolidada durante a maratona AgroHack Ideias surge da identificação de lacunas críticas evidenciadas durante pesquisas de mestrado de Dayanara, focadas na integração de dados da bacia hidrográfica do Rio São Francisco, particularmente no que se refere ao mapeamento da qualidade da água, uso e ocupação do solo e mapeamento de conflitos ambientais.
As deficiências na gestão de recursos hídricos no Brasil estão, em grande parte, relacionadas à má utilização dos dados disponíveis e à falta de dados e ferramentas integradas para análise ambiental. Esse cenário motivou o desenvolvimento de uma solução tecnológica com potencial para transformar a gestão hídrica no país, evitando danos ambientais graves e os conflitos de uso da água.
O que inicialmente surgiu como uma observação acadêmica sobre limitações metodológicas e operacionais evoluiu para uma proposta prática, que une conhecimento científico e inovação tecnológica. Essa iniciativa conquistou o primeiro lugar no desafio AgroHack Ideias 2025.
Entendendo a Startup SIGA, vencedora do AgroHack Ideias 2025
Focada em resolver problemas como a falta de integração de dados de qualidade da água, o uso e ocupação do solo e os conflitos ambientais nas bacias hidrográficas brasileiras, surge a startup SIGA. A solução é baseada em uma plataforma tecnológica que permite a análise em tempo real da qualidade da água, o mapeamento do uso do solo e a consequente preservação dos recursos hídricos e das áreas de preservação permanente.
A ideia, a curto prazo, é desenvolver aplicações web com performance parecida a dos aplicativos nativos. Entre os principais benefícios estão a prevenção de desastres ambientais, o monitoramento instantâneo com sinais de alerta, com a utilização de inteligência artificial para potencializar a tomada de decisões.
A médio prazo, está prevista a criação de aplicações nativas e distribuição nos canais Apple Store e Google Play. Redes sociais, website e a divulgação da startup em outros eventos fazem parte da estratégia de transformar a ideia em realidade.
Os próximos passos apontam para a Incubadora do AgroHack Ideias, que é um programa que apoia empresas com modelos de negócio inovadores, fornecendo treinamentos, mentorias e uma rede de contatos para que alcancem o mercado a que se destinam. A iniciativa é baseada em metodologia de pré-incubação que já recebeu o prêmio Cidade Empreendedora do Sebrae-DF. Na edição anterior, várias startups tem se destacado, inclusive uma delas já está começando a exportar seus produtos.
Como público-alvo, a SIGA pretende fornecer sua solução a gestores públicos, como companhias de abastecimento e saneamento, agências reguladoras — como a ANA (Agência Nacional de Águas) — e outras instituições interessadas, como o IBAMA e o Ministério Público. Além disso, produtores irrigantes poderão acessar uma plataforma simplificada, com dados úteis ao desenvolvimento agrícola, por meio de um sistema de assinatura. Com esse modelo, a SIGA busca demonstrar seu potencial de escalabilidade e rentabilidade.
Os custos previstos estão relacionados principalmente aos recursos humanos necessários, incluindo coordenação geral, infraestrutura de hospedagem, desenvolvimento de software, análise de dados, aquisição de licenças de ferramentas essenciais e sensores físicos em campo, para a entrega dos benefícios propostos. O objetivo é beneficiar diretamente o cidadão — tanto das cidades quanto do meio rural — por meio de uma gestão hídrica mais eficiente e sustentável.
O trabalho realizado durante o Hackaton AgroHack Ideias
O processo de criação do sistema foi marcado por uma colaboração intensa e dinâmica. Em apenas dois dias de trabalho durante a maratona, estabeleceu-se um fluxo contínuo de comunicação, no qual os conhecimentos técnicos foram gradualmente traduzidos em funcionalidades práticas. Com o apoio dos mentores e a vivência proporcionada pela AgroBrasília, cada demanda identificada pela expertise agronômica era imediatamente incorporada ao protótipo, criando um ciclo virtuoso de desenvolvimento orientado pelas necessidades reais do campo.
A concepção da solução, que inclui o desenho do conceito do negócio, planeja, em breve, iniciar o desenvolvimento da plataforma. À medida que as lacunas técnicas eram expostas e discutidas durante o Hackaton, surgiam novas camadas de funcionalidades a serem desenvolvidas — desde sistemas automatizados de alerta até ferramentas especializadas para análise de impacto ambiental. Essa abordagem colaborativa assegurou que cada elemento da plataforma fosse diretamente alinhado aos desafios práticos da avaliação da qualidade ambiental, no contexto dos desafios “Porteira Afora” e “Sustentabilidade”, com impacto também nos pilares “Porteira Adentro” e em soluções voltadas ao Distrito Federal.
Tendo como base, os estudos acadêmicos para idealização de um sistema que transcende as limitações específicas da bacia do Rio São Francisco, no evento de imersão durante a AgroBrasília, pensou-se em uma solução escalável para toda a rede hidrográfica brasileira. A startup pretende lançar em breve a plataforma web, que representa não apenas uma resposta às demandas técnicas identificadas durante a pesquisa acadêmica, mas também uma plataforma robusta, capaz de apoiar decisões estratégicas na gestão integrada e compartilhada de recursos hídricos em escala nacional.
Com Informações Agro Hack Ideias.