
Vítor Ventura
“A conta de energia da minha casa já chegou a R$ 500”. Esse é o relato de Leandro Quirino, morador de Taguatinga de 39 anos que decidiu fazer um investimento que vem se tornando comum no Distrito Federal: a opção pela energia solar. Com ela, Leandro já percebe a grande diferença na fatura no fim do mês, e não somente ele. Conforme dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o DF registra mais de 521 megawatts (MW) de potência instalada na geração própria solar. São mais de 29 mil conexões operacionais de energia solar em telhados e pequenos terrenos. Além disso, dados da Financeira do Santander indicam que a capital registrou um crescimento de 265% na concessão de crédito para projetos de energia solar em 2024, seja para residências, comércios, indústrias ou prédios públicos.
Leandro relatou ao Jornal de Brasília que conta com o abastecimento de energia solar na casa dele desde novembro de 2024. A decisão de instalar o equipamento veio, principalmente, da possibilidade de pagar menos na conta de luz, sobretudo em períodos mais quentes. “Em tempos de calor intenso, a conta da minha residência chegou a R$ 500 por conta do uso do ar-condicionado. Então fiz uma ponderação e entendi que o investimento em longo prazo seria vantajoso”, disse.
Segundo indica a Absolar, atualmente são mais de 31 mil consumidores de energia elétrica a partir da captação por placas solares que já contam com redução na conta de luz, maior autonomia e confiabilidade elétrica. Desde 2012, a modalidade já proporcionou ao DF a atração de R$ 2,4 bilhões em investimentos, geração de mais de 15,6 mil empregos e a arrecadação de mais de R$ 700 milhões aos cofres públicos.
De acordo com a Absolar, um estudo da Volt Robotics, ao calcular os custos e benefícios da chamada Geração Distribuída, estimou que a economia líquida na conta de luz de todos os brasileiros deve ser de mais de R$ 84,9 bilhões até 2031. Estes benefícios abrangem tanto aqueles que têm quanto os que não possuem sistema fotovoltaico instalado no imóvel.
“Além de ser uma fonte limpa e renovável você consegue ver na fatura as vantagens da instalação. Hoje pagamos a tarifa mínima de energia. No último mês, por exemplo, pagamos R$ 31. Fizemos o financiamento para três anos e, após esse período, nós mantemos apenas cuidados com a manutenção da limpeza das placas. A durabilidade, se tudo correr bem, é de 20 anos”, explicou Leandro.
Saiba mais
A Geração Distribuída (GD) é uma modalidade que permite a geração de energia elétrica no local ou próximo ao ponto de consumo. Ela se difere da geração centralizada, que é composta por usinas de grande porte conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN), o sistema elétrico que leva energia ao consumo por meio de uma rede de transmissão e distribuição. A GD pode fazer uso das fontes eólica, solar e biomassa para gerar energia. Por questões de custo e versatilidade, a tecnologia solar fotovoltaica, ou seja, a energia solar, responde por mais de 98% das instalações do segmento no Brasil.
Crescem os financiamentos
Assim como Leandro, que realizou um financiamento para instalar placas de energia solar em casa, mais brasilienses têm visto com bons olhos o investimento na energia limpa. O aumento de 265% na concessão de crédito para projetos de energia solar no ano passado no DF evidencia isso. Cezar Janikian, diretor da Financeira do Santander, destacou a alta na demanda pela energia solar: “O aumento na busca por financiamento de placas solares mostra que o brasileiro está atento às vantagens da energia limpa. Nosso papel é facilitar esse acesso com agilidade e segurança”, avaliou.
Apesar do crescimento, Leandro reforçou que o acesso à energia solar segue restrito pelo preço. “Ainda é um produto relativamente caro, que tem crescido, mas muito distante da realidade”, destacou. Na avaliação de Bárbara Rubim, vice-presidente de geração distribuída da Absolar, ampliar o acesso à energia limpa no país é algo essencial tanto para a economia quanto para o meio ambiente: “A democratização da geração própria solar amplia o protagonismo do Brasil na transição energética, atrai novos investimentos, gera muitos empregos verdes locais e de qualidade, fortalece a sustentabilidade, alivia o orçamento das famílias e eleva a competitividade dos setores produtivos brasileiros”, explicou.
Energia limpa
Além da economia na conta de luz, um dos fatores que também influenciou Leandro a instalar as placas solares foi a opção por uma energia mais limpa. “Temos a vantagem de termos sol o ano inteiro, além de ser uma energia renovável e menos danosa como a energia produzida nas termelétricas”, ressaltou.
Ao JBr, Adriana Resende, engenheira eletricista e de segurança do trabalho e presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Distrito Federal (Crea-DF), e Lucas de Paula, presidente da Associação Brasiliense de Energia Solar Fotovoltaica, destacaram a importância da energia solar para a capital.
“Brasília tem um potencial enorme para esse tipo de geração. Nossa localização garante sol forte praticamente o ano inteiro, o que nos coloca entre as regiões mais propícias do país para aproveitar a energia fotovoltaica”, apontou Adriana.
Ela ainda afirmou que com os investimentos e políticas públicas adequadas, é viável que a energia solar se torne uma das principais fontes de abastecimento no DF. “Temos as condições técnicas e climáticas para isso”, reforçou a presidente do Crea-DF.
Lucas de Paula também ressaltou o crescimento, mesmo que esse ainda seja gradual: “O DF ainda depende fortemente da energia que vem de outras regiões do Brasil, como hidrelétricas e termelétricas. Mas a geração solar distribuída já mostra sua força: hoje, ela supre cerca de 18% do consumo de energia do DF, contra apenas 1% há cinco anos”, avaliou. Ele também evidenciou a sustentabilidade do modelo: “A energia solar traz um impacto sustentável imediato, por ser uma fonte limpa e 100% renovável, que reduz emissões de carbono e contribui para a preservação ambiental”, concluiu.
Fonte: Jornal de Brasília