
Com uma programação promovida pelo Comitê Gestor do Programa Mulher, o Confea celebrou, na noite desta segunda-feira (23/6), o Dia Internacional das Mulheres na Engenharia. Marcado pela palestra da divulgadora científica Camila Achutti (confira detalhes sobre a palestra aqui) e por painéis sobre a presença feminina no mercado de trabalho e projetos inovadores em universidades, o evento reuniu, no mezanino da torre de TV de Brasília, diversas lideranças e expoentes da Engenharia, Agronomia e Geociências do país, voltadas a fortalecer a inclusão feminina no Sistema Confea/Crea e Mútua. Segundo a maior pesquisa desenvolvida sobre a realidade do Sistema, pela Quaest, entre as cerca de 223 mil mulheres registradas no Sistema, 56% foram registradas há menos de cinco anos, representando ainda um terço dos registros com menos de 30 anos.
A programação do Dia Internacional das Mulheres na Engenharia também homenageou as presidentes de Creas Adriana Falconeri (Crea-PA), Alzira Miranda (Crea-AM); Vânia Mello (Crea-MS), Nanci Walter (Crea-RS), Carmem Nardino (Crea-AC); Lígia Mackey (Crea-SP) e Rosa Tenório (Crea-AL) e ainda a engenheira agrônoma Mariângela Hungria, reconhecida com o Prêmio Mundial da Alimentação, considerado o Prêmio Nobel da Agricultura. Com moderação da jornalista Gabriela Arruda, o evento recebeu ainda as jovens Thalita Denys, estudante de Engenharia Mecânica, e eng. ftal. Laura Sousa, do projeto de extensão “Meninas Velozes”, da Universidade de Brasília (UnB), e também as estudantes de Engenharia Aeroespacial Maria Eduarda Pires e Luiza Heinen, do projeto “Kosmos Rocketry”, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Participação do presidente do Confea, eng. Vinicius Marchese, direto de São Paulo
Em São Paulo para participar de uma agenda previamente marcada com cerca de 500 futuros profissionais do estado, o presidente do Confea, eng. telecom. Vinicius Marchese, disse em vídeo exibido na abertura do evento que o tema da capacitação profissional está relacionado à autonomia e ao sucesso profissional. “Dentro dessa diretriz escolhida pelo Comitê Gestor do Programa Mulher, o nosso objetivo é promover o desenvolvimento profissional de todos os nossos profissionais. Parabéns ao Comitê Gestor por essa escolha. Isso é algo que nós acreditamos que possa transformar a vida das nossas mulheres profissionais. Não tenho dúvida de que vocês sairão desse evento pessoas e profissionais diferentes, que vocês encontrem esse valor e possam proporcioná-lo para outras profissionais, sendo multiplicadoras dessa valorização profissional que vocês estão participando”, afirmou, chamando a atenção para a palestra da cientista da computação Camila Achutti e agradecendo à representante do plenário, conselheira federal eng. civ. Ana Adalgisa, e às demais integrantes do Comitê: eng. pesca Alzira Miranda, presidente do Crea-AM; eng. amb. e seg. trab. Kátia Lemos Dinis; geol. Simone Cerqueira; da assessora da presidência do Confea Rafaela Godinho e da eng. civ. Núbia Viezzer. Vinicius ainda saudou as participantes direto de São Paulo.
Comitê Gestor
Para Alzira Miranda, “ser mulher na Engenharia ainda é um ato de coragem, mas também um ato de transformação”. O Dia Internacional da Mulher na Engenharia significa, segundo ela, uma oportunidade de reconhecimento, inspiração e compromisso com a equidade e com a valorização da presença feminina nas áreas tecnológicas. “Cada mulher que ocupa seu espaço em laboratórios, canteiros de obras, escritórios de projetos, salas de aula e conselhos profissionais está redesenhando o futuro com competência, inovação e com a maior das nossas virtudes, a sensibilidade”, afirmou, agradecendo o Confea pela realização do evento e as participações de todas as presentes. “Precisamos de apoio para aumentar essa rede estratégica, dando vez e voz para o Brasil”.
Presidente do Crea-AM, eng. pesca Alzira Miranda, integrante do Comitê Gestor do Programa Mulher
Representante das coordenadorias de câmaras especializadas, Kátia Lemos Dinis, definiu que “o Comitê é isso, impulsionar a força das mulheres e trazer mais mulheres para a Engenharia. Vão nas instituições de ensino e falem da importância de fazer parte das profissões do Sistema. Quero antes de me aposentar ter uma presidente do Confea”.
Assessora da presidência do Confea, Rafaela Godinho, destacou a produção do evento. “Pensamos bastante em todo o conteúdo para que vocês tirassem o melhor proveito de tudo o que estaria sendo discutido aqui. Estou adorando fazer parte do Comitê Gestor e espero que a gente traga muitas coisas boas para todos vocês”, disse, enquanto a representante da Mútua, Núbia Viezzer, afirmou estar muito feliz e honrada “por ver essas mulheres com mentes brilhantes. Vocês são as pessoas que estão na ponta e trazendo as mulheres, fazendo com que elas tenham orgulho de ser engenheiras, engenheiras agrônomas e geocientistas. Temos garra e vamos atrás do que tem valor em nossas vidas. A engenharia precisa de mulheres fortes à frente dos Creas, do Confea, da Mútua”.
Primeiro painel do evento mobilizou sobre o mercado de trabalho
Mercado de trabalho
A valorização da presença feminina no mercado de trabalho foi o foco do painel, coordenado por Alzira e que contou com as participações da coordenadora nacional do Sebrae Delas, Renata Malheiros; da secretária nacional de transporte rodoviário, eng. civ. Viviane Esse, e da vencedora do prêmio Ciência Delas, promovido pela Repsol Sinopec Brasil, Embaixada da Espanha no Brasil e Associação de Cientistas Espanhóis no Brasil (Acebra), eng. quim. Renata Martins Braga. “A cultura precisa ser quebrada de dentro pra fora”, comentou a integrante do Comitê Gestor do Programa Mulher, que direcionou perguntas às painelistas.
Coordenadora nacional do Sebrae Delas, Renata Malheiros
O crescimento da participação “delas” no empreendedorismo e nos serviços de engenharia no país foi apontado pela coordenadora do Sebrae Delas. “Gostaria de dizer que é um crescimento vertiginoso. Os números estão melhorando numa perspectiva histórica, mas a grande verdade é que ainda existem muitas barreiras. A gente precisa acelerar esse processo de mudança. Se até poucos anos a gente tinha barreiras na lei, imagine as barreiras culturais, a competência socioemocional, por exemplo, que costuma colocar barreiras adicionais às mulheres. E o segredo para a mudança é estar em redes. Por isso, gostaria de parabenizar vocês por estarem em rede, em plena segunda-feira à noite, participando desse evento”, considerou Renata Malheiros, comentando ainda aspectos sobre a hostilidade do ambiente de trabalho. Ela também informou que um terço dos 30 milhões de empreendedores do país são mulheres. “Mas elas dedicam 17% menos tempo do que os homens, por motivos culturais”.
Secretária nacional de Transporte Rodoviário, eng. civ. Viviane Esse
Servidora da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Viviane Esse analisou como as políticas públicas de transportes e infraestrutura do país podem se beneficiar da participação das engenheiras. Considerando a importância do evento para sensibilizar e modificar a visão das pessoas sobre o tema, a secretária apontou a necessidade de mudar o paradigma do lugar social da mulher. “Sou a primeira mulher a assumir a secretaria que formula a política pública de transporte no país. Isso tem um impacto gigantesco na minha vida. Eu me capacitei e tive muita resiliência para estar aqui. E é um lugar preenchido por mim e por todas as mulheres que me antecederam e que não puderam ter lugar de fala. Somos um conjunto de mulheres que nos trouxeram até aqui. Isso é muito representativo, isso dá muita visibilidade às futuras engenheiras e às meninas para gostar de Exatas”, disse, destacando uma maior resiliência, capacitação e empatia ao processo de construção de políticas públicas, principalmente de infraestrutura. Ao final, ela também considerou os avanços da participação feminina nos setores público e privado. “Temos uma política específica no ministério dos Transportes, em parceria com o ministério das Mulheres, para aumentar a quantidade de mulheres atuando no setor de infraestrutura porque a gente acredita que isso traz igualdade e muitos benefícios”.
Professora da UFRN, eng. quim. Renata Martins Braga
A pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande Norte (UFRN), vencedora do prêmio Ciência Delas de 2025 com um projeto sobre a captura intensiva de CO₂ para produção de biocombustíveis avançados a partir da conversão de microalgas por diferentes rotas temorquímicas, comentou o interesse do público feminino pelas carreiras científicas e tecnológicas. “Esse prêmio é bastante motivador. E trazer meninas pra nossa área é uma preocupação como docente. São estudantes entre 17 e 22 anos, meninas e meninos em desenvolvimento. Então, motivar para que eles se mantenham firmes na carreira é um grande desafio. A gente está enfrentando uma evasão muito grande, mas eu acredito que a maior motivação para eles é a inspiração dos professores. Construir esse caminho com eles, pavimentando com segurança e acolhendo, é uma das melhores estratégias”, afirmou. Renata também comentou que as novas alunas de engenharia são mais objetivas. “Elas vão com um propósito firme e elas seguem se capacitando no mestrado, doutorado, quando não conseguem entrar no mercado de trabalho”.
Inovações culturais
As mudanças culturais estimuladas pela coordenadora do programa Sebrae Delas foram postas em evidência no segundo painel, que reuniu as universitárias da UnB e da UFSC (em participações virtuais de Joiville). Em um bate-papo com a jornalista Gabriela Arruda, as jovens contaram suas experiências, desde o despertar para a engenharia até o enfrentamento da maioria masculina, inspirações e ainda seus projetos. “Esses espaços não foram pensados para a gente, mas as meninas não devem ter medo. Nós estamos ressignificando as comunidades e transformando isso com competência e muito trabalho. Precisamos de todas juntas para que isso aconteça”, disse Laura Sousa. “As meninas devem acreditar nelas mesmas e elas não vão estar sozinhas, tem mulheres e homens que apoiam. Precisamos buscar a igualdade. O projeto atua em áreas onde as meninas não têm perspectiva nem de entrar na faculdade”, complementou Thalita Denys.
Participantes do segundo painel
“A maior conquista da Kosmos foi o foguete de 30 mil pés de altitude (9,1 quilômetros, altitude próxima à de voos comerciais), que fizemos recentemente. Somos a primeira equipe universitária do hemisfério sul a lançar um desses. Foi algo incrível, todo mundo trabalhou muito e se não fosse o esforço das meninas, a gente não teria chegado lá. Isso deixa a gente muito feliz”, comentou Luiza Heinen sobre o projeto do foguete Morpheus, premiado na International Rocket Engineering Competition (Irec) deste ano. “Estava fazendo prova nos dias do teste e no lançamento dos Estados Unidos. E o momento mais inesquecível foi conseguir recuperar o foguete”, acrescentou Maria Eduarda Pires.
Conselheira federal eng. civ. Ana Adalgisa
Censo
O Censo do Sistema Confea-Crea teve alguns de seus resultados apresentados pela conselheira federal Ana Adalgisa. “Queria parabenizar a todos os painéis. Nosso conselho fez a primeira pesquisa junto aos profissionais do Sistema, traçando um perfil, mostrando um retrato dos nossos profissionais e das nossas profissionais. Hoje o Sistema tem 223 mil mulheres registradas, praticamente 20% do nosso Sistema. A gente pensa: só 20%? Mas podemos pensar: já temos 20% e estamos em crescimento, com uma perspectiva futura de crescimento, considerando que até 30 anos uma em cada três profissionais são mulheres. Estamos evoluindo, chegando perto. Temos que despertar esse interesse em ser engenheiras desde crianças”, considerou, apresentando ainda outros dados sobre o aumento da participação feminina. “Somos hoje oito mulheres presidentes de Creas, então estamos evoluindo e esse programa Mulher tem a função de formar líderes, como estamos crescendo no Confea, nos regionais, nas Mútuas. Vamos buscar cada vez mais espaços. Precisamos criar Trilhas de Capacitação em todos os Creas para formar líderes e mudar o nosso Sistema”, descreveu, convidando para a capacitação contínua das engenheiras.
Com informações do Confea.